Os principais objetivos da pesquisa Cinema Brasiliense: gênero e representação são: analisar como as obras audiovisuais brasilienses têm retratado as mulheres e dar ampla divulgação aos resultados do estudo.
A difusão da pesquisa tem como propósito destacar a necessidade de ações que promovam uma maior representatividade e uma representação que evite estereótipos e preconceitos, além de apoiar a avaliação de futuras ações na área.
Foram analisadas 20 obras de longa-metragem de ficção (excluindo o gênero experimental) produzidas (ou co-produzidas) por empresas do Distrito Federal, lançadas comercialmente em salas de cinema no Brasil, de 1995 a 2018.
A pesquisa foi dividida em três eixos temáticos, com diferentes objetos de pesquisa, escopos e metodologias.
Eixo 1: Papéis tradicionais de gênero e sua representação nas obras;
Eixo 2: Violência como recurso narrativo (linguagem) pela perspectiva de gênero e raça;
Eixo 3: Representatividade e representação de ficha técnica e elenco em relação a gênero, raça e LGBTQIA+.
Foi criado um instrumento de análise da representação dos papéis de gênero, usando medidas de papéis tradicionais de gênero e testes de representação.
Medidas de papéis tradicionais de gênero: Há uma vasta literatura sobre papéis de gênero e sobre como medir atitudes relacionadas a gênero, preconceito, consequências da discriminação de gênero e comportamentos típicos, tradicionais de estereótipos de gênero. Foram utilizados dois inventários: Inventário de papéis de gênero de comportamentos tradicionais e não tradicionais da mulher (Diane R. FOLLINGSTAD; Elizabeth A. ROBINSON, 1985) e Escala de Comportamento Masculino (MBS) de William E. Snell (1989).
Testes de Representação: Testes utilizados para interpretar a presença, a participação e a profundidade de determinado grupo em uma obra. No caso desta pesquisa, adaptamos os testes de representação que avaliam o papel da mulher nas tramas, para análise dos gêneros feminino e masculino. Foram usados os testes Bechdel, Mako Mori e Tauriel.
Teste Bechdel: O mais difundido entre os testes. A origem do teste Bechdel é um diálogo entre personagens de uma tirinha de quadrinhos da série Dykes to Watch Out for, de Alison Bechdel (2008), publicada inicialmente em 1985 e intitulada The Rule. A desenhista utilizou uma ideia de sua amiga Liz Wallace para expressar o porquê de uma das personagens ir pouco ao cinema: a personagem só assistiria a filmes que respondessem afirmativamente a três perguntas: existem ao menos duas mulheres com nome no filme? Elas conversam entre si? Sobre algo que não seja homem? Usando estes critérios, foi elaborado o que se batizou como teste Bechdel, conhecido também como a Escala cinematográfica Mo (nome de uma das personagens da série de quadrinhos), este teste é utilizado para avaliar a presença das mulheres em filmes (BECHDEL TEST, 2020).
Teste Mako Mori: nasce em referência à personagem Mako Mori, do filme Círculo de Fogo (Pacific Rim) (2013), de Guillermo del Toro, reprovado no teste de Bechdel. Dos 56 atores creditados no filme, apenas três mulheres apresentam falas. No filme em questão, a personagem Mako Mori apresenta um arco narrativo que foge do estereótipo: ela é uma mulher, asiática, protagonista, heroína, não hipersexualizada, contida, que possui o sua própria história. Para a aprovação no Mako Mori, é preciso que o filme tenha pelo menos uma personagem feminina, com arco narrativo e que esse arco não seja apoiado em um homem - ou seja, mulheres que possuem a própria narrativa de forma independente (Tim POSADA, 2019).
Teste Tauriel: Seu nome foi homenagem à elfa presente na trilogia cinematográfica de O Hobbit, que, na análise da idealizadora do teste, é uma guerreira tão competente quanto os personagens masculinos (Carolina A. MAGALDI; Carla S. MACHADO, 2016). O teste consiste em responder apenas duas perguntas: existe uma mulher na obra audiovisual? Ela é boa no seu trabalho? Vale ressaltar que ser boa refere-se no sentido de competência (Arne CHYS, 2019). Na adaptação do teste (CHARACTER AND WRITING HELP, 2014) foi acrescida uma terceira pergunta dependente de resposta positiva à segunda: a personagem abandona o seu trabalho por causa de um interesse romântico, explícito ou implícito? Este teste é utilizado para avaliar a competência.
Foi criado um instrumento de análise da representação da violência como linguagem. O instrumento foi construído utilizando o teste de representação Barnett.
Violência como linguagem: Termo criado a partir deste estudo para descrever a violência utilizada como forma de linguagem. Ela é composta por três dimensões:
1) o desengajamento moral
2) a violência como forma de resolução de conflitos e,
3) as performatividades da heteronormatividade e da masculinidade.
Desengajamento moral: O desengajamento moral está relacionado com a aprovação ou reprovação das cenas de violência em filmes - por aqueles que provocam, recebem ou presenciam essas ações -, com a utilização de recursos narrativos que tiram a responsabilidade do agressor e/ou culpam a vítima (BANDURA; BARBARANELLI; CAPRARA; PASTORELLI, 1996).
Violência como forma de resolução de conflitos: A violência também pode ser usada como estratégia de ação para resolver conflitos interpessoais. Esta dimensão foi construída com três itens (se a violência foi usada como resolução do conflito, se o conflito foi resolvido e se ela marca o arco dramático de algum personagem), mas um deles (arco dramático) não apareceu nos resultados como relacionado à violência nos filmes.
Performatividades da heteronormatividade e da masculinidade: A naturalização das relações de poder e dos papéis de gênero, a partir de formas heteronormativas e masculinas para se encaixar no que é esperado de seu gênero.
Teste Barnett:Inspirado no Bechdel, tem como intuito analisar a relação entre o estereótipo do gênero masculino e a prática da violência, com a análise de duas perguntas:
1) O filme possui pelo menos duas mulheres e dois homens, conversando entre si, e o assunto do diálogo entre as pessoas de mesmo gênero vai além de falar sobre o sexo oposto?
2) Se há alguma violência, ela é retratada com humor ou falta de seriedade; ou como normal ou aceitável; ou ainda como se alguém merecesse a violência? (GENDER EQUALITY, 2021).
Análise de representatividade na equipe técnica e no elenco principal e de representação pela ótica de gênero, raça e LGBTQIA+ a partir das personagens principais do filme, pelo ponto de vista de suas ações e narrativa da história.
Equipe técnica e elenco principal: Equipe técnica principal em relação à classificação de gênero e raça (IBGE): direção, roteiro, produção executiva, direção de fotografia e direção de arte (ANCINE, 2015-2018).
Elenco principal como sendo aquelas pessoas colocadas em destaque nos créditos iniciais ou finais de cada obra.