Cinema Brasiliense

Gênero e Representação
Os principais objetivos da pesquisa Cinema Brasiliense: gênero e representação são analisar como as obras audiovisuais brasilienses têm retratado as mulheres e dar ampla divulgação aos resultados do estudo. A difusão da pesquisa tem como propósito destacar a necessidade de ações que promovam uma maior representatividade e uma representação que evite estereótipos e preconceitos, além de apoiar a avaliação de futuras ações na área.

O estudo surgiu a partir do desdobramento da monografia desenvolvida pela produtora e pesquisadora do Distrito Federal (DF), Natália Brandino, como parte da pós-graduação em Cinema e Linguagem Audiovisual da Estácio Sá, intitulada “A mulher nos filmes nacionais”. Este estudo foi inspirado pelos dados da Agência Nacional do Cinema (ANCINE) que demonstravam uma pequena participação feminina na ficha técnica principal das obras nacionais acesse aqui

Na monografia, foi analisada a representatividade e a representação da mulher nos maiores sucessos de bilheteria de filmes brasileiros no período de 1995 e 2016.

Imagem em preto e branco de homem negro com corte de cabelo arredondado sentado atrás de equipamentos de som e um microfone.Branco Sai Preto Fica
Representatividade

Presença de determinado grupo na ficha técnica e/ou elenco da obra.

Representação

Interpretação da presença, participação, profundidade e outros aspectos que permeiam determinado grupo de personagens representado na obra.

A pesquisa foi adaptada para um artigo, que foi selecionado para a Revista Filme Cultura nº63 - Mulheres, câmera e telas, publicado com exclusividade no 1º semestre de 2018.

A revista Filme Cultura tem mais de 50 anos de publicações, sendo um espaço de divulgação, reflexão e debate sobre o cinema e o audiovisual brasileiro, com última publicação em 2018. É uma realização da Secretaria do Audiovisual do extinto Ministério da Cultura, juntamente com o CTAv e a Cinemateca Brasileira.

Para conhecer mais acesse: http://revista.cultura.gov.br

Capa da edição número 63 da revista filme cultura, com o tema “mulheres, câmeras e telas”. Imagem em preto e branco de uma mulher operando uma câmera antiga.

Depois da publicação na Filme Cultura, Natália ingressou no Coletivo Arte Aberta, e juntamente com a sua produtora, Kocria Audiovisual, realizou as análises de representatividade e representação sobre os indicados ao Oscar de 2018, criando o selo #ElasNoOscar, que gerou uma série de análises críticas e um infográfico dos resultados (acesse aqui). Desde então, anualmente o Coletivo Arte Aberta faz análise crítica dos filmes dos Oscar (acesse aqui).

  • Logo do Arte Aberta escrito em fonte cursiva, branca, sobre um fundo mostarda.

    O Coletivo Arte Aberta cria conteúdos sobre gênero no audiovisual. Surgiu em 2015 no DF, composto por Lina Távora, Luciana Rodrigues, Risla Miranda, Rafael Maximiniano, Barbara Alpino e Natália Brandino. Para conhecer mais acesse: https://arteaberta.com/

  • Logo da Kocria, escrito em fonte branca sobre um fundo azul escuro, a letra “i” está em fonte rosa com azul. Ao lado, o texto: Audiovisual além da tela.

    A Kocria Audiovisual é uma produtora do DF, que desde 2012 trabalha em produções da cidade, e em 2018 se estruturou para desenvolver projetos audiovisuais próprios. Seus sócios são: Walder Jr e Natália Brandino. Para conhecer mais acesse: https://kocria.com.br/

Imagem em preto e branco de mulher branca com cabelos castanhos, usando um vestido decotado escuro e segurando alguns papéis.Uma loucura de mulher

Depois de vários testes e estudos sobre o tema, nasceu a ideia de analisar os filmes do Distrito Federal lançados desde 1995 a 2018.

Para isso, foi escolhida uma equipe multidisciplinar com os membros do Coletivo Arte Aberta e a coordenação da Dra. Amalia R. Perez Nebra. A proposta foi submetida aos editais da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal (SECEC-DF) por meio do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal (FAC-DF). No final de 2019, o projeto foi contemplado no Edital FAC Audiovisual - n° 16/18 – Pesquisa.

O FAC-DF existe desde 1991 e é o principal instrumento de fomento cultural do DF através de apoio financeiro por meio de editais públicos. Para conhecer mais acesse: http://www.fac.df.gov.br/

Eixos Temáticos

No final de 2019, foram mapeados os filmes a serem analisados (confira aqui) e, em seguida, as obras foram solicitadas aos realizadores. A pesquisa foi executada entre 2020 e 2021. Para o alcance do objetivo, foi definida a estratégia de divisão do estudo em três grandes eixos temáticos com diferentes pesquisas, escopos e metodologias:

Eixo 1
Papéis de Gênero e representação
Eixo 2
Violência como linguagem
Eixo 3
Representatividade de ficha técnica e elenco e representação de gênero, raça e LGBTQIA+
Papéis de Gênero e representação

Foi criado um instrumento de análise da representação dos papéis de gênero, usando medidas de papéis tradicionais de gênero e testes de representação.

Imagem em preto e branco de mulher asiática, de cabelos curtos na altura da nuca, vestindo uma regata preta.Círculo de Fogo

Medidas de papéis tradicionais de gênero: Há uma vasta literatura sobre papéis de gênero e sobre como medir atitudes relacionadas a gênero, preconceito, consequências da discriminação de gênero e comportamentos típicos, tradicionais de estereótipos de gênero. Foram utilizados dois inventários: Inventário de papéis de gênero de comportamentos tradicionais e não tradicionais da mulher (Diane R. FOLLINGSTAD; Elizabeth A. ROBINSON, 1985) e Escala de Comportamento Masculino (MBS) de William E. Snell (1989).

Testes de Representação: Testes utilizados para interpretar a presença, a participação e a profundidade de determinado grupo em uma obra. No caso desta pesquisa, adaptamos os testes de representação que avaliam o papel da mulher nas tramas, para análise dos gêneros feminino e masculino. Foram usados os testes Bechdel, Mako Mori e Tauriel.

Teste Bechdel: O mais difundido entre os testes. A origem do teste Bechdel é um diálogo entre personagens de uma tirinha de quadrinhos da série Dykes to Watch Out for, de Alison Bechdel (2008), publicada inicialmente em 1985 e intitulada The Rule. A desenhista utilizou uma ideia de sua amiga Liz Wallace para expressar o porquê de uma das personagens ir pouco ao cinema: a personagem só assistiria a filmes que respondessem afirmativamente a três perguntas: existem ao menos duas mulheres com nome no filme? Elas conversam entre si? Sobre algo que não seja homem? Usando estes critérios, foi elaborado o que se batizou como teste Bechdel, conhecido também como a Escala cinematográfica Mo (nome de uma das personagens da série de quadrinhos), este teste é utilizado para avaliar a presença das mulheres em filmes (BECHDEL TEST, 2020).

Teste Mako Mori: nasce em referência à personagem Mako Mori, do filme Círculo de Fogo (Pacific Rim) (2013), de Guillermo del Toro, reprovado no teste de Bechdel. Dos 56 atores creditados no filme, apenas três mulheres apresentam falas. No filme em questão, a personagem Mako Mori apresenta um arco narrativo que foge do estereótipo: ela é uma mulher, asiática, protagonista, heroína, não hipersexualizada, contida, que possui o sua própria história. Para a aprovação no Mako Mori, é preciso que o filme tenha pelo menos uma personagem feminina, com arco narrativo e que esse arco não seja apoiado em um homem - ou seja, mulheres que possuem a própria narrativa de forma independente (Tim POSADA, 2019).

Teste Tauriel: Seu nome foi homenagem à elfa presente na trilogia cinematográfica de O Hobbit, que, na análise da idealizadora do teste, é uma guerreira tão competente quanto os personagens masculinos (Carolina A. MAGALDI; Carla S. MACHADO, 2016). O teste consiste em responder apenas duas perguntas: existe uma mulher na obra audiovisual? Ela é boa no seu trabalho? Vale ressaltar que ser boa refere-se no sentido de competência (Arne CHYS, 2019). Na adaptação do teste (CHARACTER AND WRITING HELP, 2014) foi acrescida uma terceira pergunta dependente de resposta positiva à segunda: a personagem abandona o seu trabalho por causa de um interesse romântico, explícito ou implícito? Este teste é utilizado para avaliar a competência.

Violência como linguagem

Foi criado um instrumento de análise da representação da violência como linguagem. O instrumento foi construído utilizando o teste de representação Barnett.

Imagem em preto e branco de homem branco de cabelos curtos com camiseta preta, segurando uma arma de fogo com as duas mãos.Federal

Violência como linguagem: Termo criado a partir deste estudo para descrever a violência utilizada como forma de linguagem. Ela é composta por três dimensões:

1) o desengajamento moral

2) a violência como forma de resolução de conflitos e,

3) as performatividades da heteronormatividade e da masculinidade.

Desengajamento moral: O desengajamento moral está relacionado com a aprovação ou reprovação das cenas de violência em filmes - por aqueles que provocam, recebem ou presenciam essas ações -, com a utilização de recursos narrativos que tiram a responsabilidade do agressor e/ou culpam a vítima (BANDURA; BARBARANELLI; CAPRARA; PASTORELLI, 1996).

Violência como forma de resolução de conflitos: A violência também pode ser usada como estratégia de ação para resolver conflitos interpessoais. Esta dimensão foi construída com três itens (se a violência foi usada como resolução do conflito, se o conflito foi resolvido e se ela marca o arco dramático de algum personagem), mas um deles (arco dramático) não apareceu nos resultados como relacionado à violência nos filmes.

Performatividades da heteronormatividade e da masculinidade: A naturalização das relações de poder e dos papéis de gênero, a partir de formas heteronormativas e masculinas para se encaixar no que é esperado de seu gênero.

Teste Barnett:Inspirado no Bechdel, tem como intuito analisar a relação entre o estereótipo do gênero masculino e a prática da violência, com a análise de duas perguntas:

1) O filme possui pelo menos duas mulheres e dois homens, conversando entre si, e o assunto do diálogo entre as pessoas de mesmo gênero vai além de falar sobre o sexo oposto?

2) Se há alguma violência, ela é retratada com humor ou falta de seriedade; ou como normal ou aceitável; ou ainda como se alguém merecesse a violência? (GENDER EQUALITY, 2021).

Representatividade de ficha técnica e elenco e representação de gênero, raça e LGBTQIA+

Análise de representatividade na equipe técnica e no elenco principal e de representação pela ótica de gênero, raça e LGBTQIA+ a partir das personagens principais do filme, pelo ponto de vista de suas ações e narrativa da história.

Imagem em preto e branco de um homem branco vestindo uma regata preta, olhando para o próprio braço.Cru

Equipe técnica e elenco principal: Equipe técnica principal em relação à classificação de gênero e raça (IBGE): direção, roteiro, produção executiva, direção de fotografia e direção de arte (ANCINE, 2015-2018).

Elenco principal como sendo aquelas pessoas colocadas em destaque nos créditos iniciais ou finais de cada obra.

Filmes Analisados

1995
Louco por Cinema
Equipe técnica principal
feminino
20%
branca
100%
Mulher(es) da equipe técnica principal: direção de arte de Maria Carmen de Souza.
Elenco principal
feminino
20%
parda
6.7%
preta
13.3%
1999
No Coração dos Deuses
Equipe técnica principal
feminino
20%
branca
100%
Mulher(es) da equipe técnica principal: produção executiva de Mallú Moraes*
*Divide a função com Geraldo Moraes.
Elenco principal
feminino
16.67%
parda
4.55%
preta
4.55%
2005
As Vidas de Maria
Equipe técnica principal
feminino
16.6%
parda
20%
Direção de arte de Fatah Mendonça*.
*Divide a função com José Roberto Furquim.
Elenco principal
feminino
31.25%
preta
6.25%
parda
12.5%
2005
Filhas do Vento
Equipe técnica principal
feminino
20%
preta
20%
Direção de arte de Andrea Velloso.
Elenco principal
feminino
68.75%
preta
91.67%
2006
A Conspiração do Silêncio
Equipe técnica principal
feminino
11.11%
parda
28.57%
Roteiro de Paula Simas*
*Divide a função com Ronaldo Duque e Guilherme Reis.
Elenco principal
feminino
28.57%
preta
14.29%
2009
Se Nada Mais Der Certo
Equipe técnica principal
feminino
16.7%
amarela
20%
branca
80%
Produção executiva de Lili Bandeira*
*Divide a função com Lê Brasil, e quem não foi possível identificar o gênero.
Elenco principal
feminino
40%
branca
100%
2010
Federal
Equipe técnica principal
masculino
100%
branca
100%
Elenco principal
feminino
25%
preta
16.67%
2011
Simples Mortais
Equipe técnica principal
masculino
100%
branca
100%
Elenco principal
feminino
42.86%
preta
14.29%
2011
Um Assalto de Fé
Equipe técnica principal
feminino
57.1%
branca
100%
Roteiro e direção de Cibele Amaral, produção executiva de Ana Maria Muhlenberg e direção de arte de Poema Muhlenberg.
Elenco principal
feminino
46.1%
preta
23%
2013
A Última Estação
Equipe técnica principal
feminino
33.3%
branca
100%
Produção executiva de Beth Curi e Carmen Flora
Elenco principal
feminino
66.6%
preta
33.33%
2013
Cru
Equipe técnica principal
masculino
100%
branca
100%
Elenco principal
feminino
28.6%
preta
14.3%
2013
Nove Crônicas Para Um Coração Aos Berros
Equipe técnica principal
feminino
44.44%
parda
11.11%
Roteiro de Cristiane Oliveira*, produção executiva de Thalita Ateyeh e Marina Volpatto**, direção de arte de Valéria Verba.
*Divide a função com Gustavo Galvão. **Dividem a função com Guilherme Bacalhao.
Elenco principal
feminino
47.37%
parda
5.26%
2013
Uma Dose Violenta de Qualquer Coisa
Equipe técnica principal
feminino
37.5%
branca
100%
Roteiro de Cristiane Oliveira*, produção executiva de Silvia Calza **, direção de arte de Valéria Verba.
*Divide a função com Gustavo Galvão e Bernardo Scartezini.**Divide a função com Gustavo Galvão.
Elenco principal
feminino
57.14%
parda
14.29%
2015
Até Que A Casa Caia
Equipe técnica principal
feminino
60%
branca
100%
Roteiro e produção executiva de Lu Teixeira, direção de arte de Carol Tanajura.
Elenco principal
feminino
50%
branca
100%
2015
Branco Sai Preto Fica
Equipe técnica principal
feminino
33.33%
preta
33.33%
Produção executiva de Simone Gonçalves*, direção de arte de Denise Vieira.
*Divide a função com Adirley Queiroz.
Elenco principal
masculino
100%
preta
100%
2015
O Último Cine Drive In
Equipe técnica principal
feminino
33.33%
branca
100%
Produção executiva de Carol Barboza, direção de arte de Maíra Carvalho.
Elenco principal
feminino
37.5%
preta
12.5%
parda
12.5%
2016
O Outro Lado do Paraíso
Equipe técnica principal
feminino
20%
branca
90%
amarela
10%
Produção executiva de Beth Curi e Carmen Flora*.
*Dividem a função com Marcio Curi.
Elenco principal
feminino
50%
preta
14.29%
parda
7.14%
2016
Uma Loucura de Mulher
Equipe técnica principal
feminino
25%
parda
12.5%
Roteiro de Angélica Lopes e Kirsten Carthew*.
*Dividem a função com Marcus Ligocki Jr.
Elenco principal
feminino
33.33%
branca
100%
2018
A Repartição do Tempo
Equipe técnica principal
feminino
14.3%
parda
28.6%
Produção executiva de Gisela Stangl*.
*Divide a função com Adler Paz.
Elenco principal
feminino
25%
parda
25%
2018
O Colar de Coralina
Equipe técnica principal
feminino
50%
parda
16.67%
preta
16.67%
Produção executiva de Laura Gontijo e Carina Bini, direção de arte de Teresa Labarrère.
Elenco principal
feminino
100%
parda
16.67%
preta
16.67%
Recolher

Resultados

Eixo 1
Papéis de Gênero e representação

Foi criado um instrumento de análise da representação dos papéis de gênero. Usando medidas de papéis tradicionais de gênero e testes de representação.


O instrumento criado foi testado e aprovado. As medidas de papéis de gênero e os testes de representação funcionam em conjunto, como uma análise complementar e mais complexa sobre a representação de gênero em obras cinematográficas. Quer testar em outros filmes? Baixe aqui.

%
A maioria das medidas de papéis de gênero tradicionais apareceram nas obras analisadas. Mesmo que as medidas de papéis tradicionais de gênero tenham sido criadas em meados e no fim dos anos 80, ainda estão presentes na representação dos filmes de Brasília analisados.
Imagem em preto e branco de perfil de homem pardo, sem barba, com cabelos escuros, vestindo uma camisa listrada.O Outro Lado do Paraíso
A partir das medidas de papéis de gênero encontradas e a relação entre elas e os testes de representação foram evidenciados os seguintes resultados:
As obras analisadas demonstram uma maior representação masculina do que feminina.
Imagem em preto e branco de mulher branca com cabelos escuros, usando um vestido claro, de época, com renda.O Colar de Colarina
Não há espaço para que homens e mulheres atuem em protagonismo conjuntamente.
Quando homens ou mulheres têm maior representação, os outros tendem a aparecer menos.
Imagem em preto e branco de homem branco calvo, usando um terno com detalhes em xadrez, apontando para o lado e gritando, nervoso.A Repartição do Tempo
Em relação aos estereótipos de gênero no âmbito da divisão de trabalhos
Ícone em azul e branco de uma pasta de trabalho.
Quando os homens desenvolvem trabalhos considerados masculinos, é menos provável que eles dividam as tarefas, e menos provável que as mulheres tenham independência nas suas histórias.
Ícone em azul e branco de uma caixa de ferramentas.
Quando as mulheres desenvolvem trabalhos considerados masculinos, elas tendem a ser mais independentes, assertivas, competentes e se relacionam melhor com as outras mulheres.
Ícone em azul e branco de uma casa.
Quando os homens desenvolvem trabalhos considerados femininos, é mais provável que eles dividam as tarefas com as mulheres e que elas tenham independência nas suas histórias.
Ícone em azul e branco de uma furadeira.
Atividades profissionais estereotipicamente masculinas tendem a ser melhor desempenhadas de forma geral e levadas mais a sério nos filmes do que o trabalho estereotipicamente feminino.
Em relação ao arco dramático: Quando as personagens femininas possuem arcos dramáticos próprios, os personagens masculinos são menos estereotipados (realizam atividades estereotipicamente femininas) e há uma divisão mais igualitária de tarefas.
Imagem em preto e branco de garota branca, com cabelos longos e escuros, segurando um prato com um bolo.O Colocar de Coralina
Quando os homens têm arcos dramáticos próprios, isso diz respeito principalmente a eles, em relação à assertividade, independência e ao comportamento (mais positivo) deles em relação às mulheres e elas a eles.
Fatores relacionados às mulheres são predominantemente vinculados às personagens femininas, mas também trazem consequências importantes para os personagens masculinos. Mais do que o que acontece na via contrária.
Imagem em preto e branco de homem nu, de costas, em primeiro plano. Ao fundo, uma mulher olha surpresa para a cena.
Em relação à aparência e hipersexualização: Quando as obras focam na competência profissional masculina, o filme chama atenção para o seu corpo de forma sexualizada. Ocorre também de o filme chamar atenção de forma expressa para características físicas (de homens e mulheres).
Eixo 2
Vioência com Linguagem

Foi criado um instrumento de análise da representação da violência como linguagem.


O instrumento foi construído utilizando o teste de representação Barnett.

O instrumento foi testado e validado. A violência como linguagem apareceu nas três dimensões propostas:
  • 1
    o desengajamento moral
  • 2
    a violência como forma de resolução de conflitos
  • 3
    as performatividades da heteronormatividade e da masculinidade.
  • Cada cena foi identificada em relação a quem inicia a violência e quem recebe, quanto ao gênero, orientação sexual e raça.
    Cenas de violência: violência física praticada por uma personagem (ou personagens) contra outra(s), o que inclui também atos de violência praticados em contextos de “camaradagem/brincadeira”.
    Gênero: homem, homem cis, homem trans, mulher, mulher cis, mulher trans, não binário, não é possível identificar - as opções homem e mulher foram utilizadas quando não havia identificação clara de diferenciação entre cis ou trans.
    Orientação sexual: heterossexual, não heterossexual, não é possível identificar.
    Raça: amarela, branca, indígena, parda, preta, não é possível identificar.
    Foram encontradas
    720
    cenas de violência
    Imagem em preto e branco de um cano de um revólver, em primeiro plano, apontado em direção à câmera.
    uma média de
    36
    cenas de violência por filme
    Todavia, em relação à duração das cenas, a maior parte dos filmes apresenta uma minutagem de violência baixa. Algumas poucas obras apresentam tempos longos de violência.
    Os filmes desenvolvem suas cenas de violência focando mais em quem é o personagem violento do que em quem é o alvo da violência. Por isso, foi possível ter mais informações sobre quem começa a violência do que sobre quem sofre. Não houve resultados suficientes para analisar a categoria orientação sexual.
    Em relação a quem inicia a violência:
    Imagem em preto e branco de um homem branco vestindo um colete, apontando a arma para outro homem, de costas, sem camisa.Federal
    Gênero
    Homens cis são representados em padrões heteronormativos e sua violência é validada pelos personagens.
    A violência é retratada de forma muito diferente dependendo de quem a pratica e isso é influenciado pela heteronormatividade e pela performatividade masculina.
    Nos filmes em que mulheres interagem mais entre si, desenvolve-se uma dinâmica que não se apoia na violência e o roteiro prioriza outras formas de contar histórias. Já nas narrativas em que os homens se relacionam mais uns com os outros, a violência costuma ser uma escolha mais frequente para desenvolver o enredo.
    Os personagens cuja violência foge da representação heteronormativa são mostrados como pessoas que comumente usam a violência para resolver seus problemas (mulheres trans) e mais propensos a serem responsabilizados por seus atos violentos (não binários).
    As violências praticadas pelas mulheres (supostamente cis) costumam ser consideradas mais aceitáveis/normais do que as praticadas pelas mulheres trans. As mulheres trans não podem cometer violências sem serem altamente reprovadas.
    Imagem em preto e branco de homem indígena com cabelos longos e um lenço amarrado na cabeça, pintura corporal nos brancos e tronco.No Coração dos Deuses
    Raça
    Os indígenas são representados como o grupo mais violento, mas ao mesmo tempo sua violência é tratada pelas obras como algo justificável.
    Os pardos são os que cometem violências mais leves, atos normalmente não utilizados como forma de resolver conflitos e que estão mais vinculados à heteronormatividade.
    Os personagens pretos são os mais responsabilizados quando cometem atos de violência.
    Em relação a quem recebe a violência:
    Gênero
    As mulheres cis são as que mais sofrem com a violência heteronormativa.
    Raça
    O grupo dos personagens indígenas é retratado associado a violências severas, tanto como agressor quanto como agredido.
    Imagem em preto e branco de homem negro de costas, com cabelos curtos e prótese na perna esquerda, segurando uma caixa.Branco Sai Preto Fica
    Eixo 3
    Representatividade de ficha técnica e elenco e representação de gênero, raça e LGBTQIA+

    Análise de representatividade na equipe técnica e no elenco principal e de representação pela ótica de gênero, raça e LGBTQIA+ a partir das personagens principais do filme, pelo ponto de vista de suas ações e narrativa da história.





    Gênero
    Feminina
    Masculina
    Não Binária
    Direção
    5%
    Feminina
    95%
    Masculina
    0%
    Não Binária
    Roteiro
    16%
    Feminina
    84%
    Masculina
    0%
    Não Binária
    Produção executiva
    47%
    Feminina
    53%
    Masculina
    0%
    Não Binária
    Direção de Fotografia
    0%
    Feminina
    100%
    Masculina
    0%
    Não Binária
    Direção de arte
    50%
    Feminina
    50%
    Masculina
    0%
    Não Binária
    Direção
    Roteiro
    Produção executiva
    Direção de Fotografia
    Direção de arte
    Raça
    Amarela
    Branca
    Indígena
    Negra (preta e parda)
    Direção
    0%
    Amarela
    85%
    Branca
    0%
    Indígena
    15%
    Negra (preta e parda)
    Roteiro
    0%
    Amarela
    92%
    Branca
    0%
    Indígena
    8%
    Negra (preta e parda)
    Produção executiva
    0%
    Amarela
    93%
    Branca
    0%
    Indígena
    7%
    Negra (preta e parda)
    Direção de Fotografia
    5%
    Amarela
    90%
    Branca
    0%
    Indígena
    5%
    Negra (preta e parda)
    Direção de arte
    6%
    Amarela
    83%
    Branca
    0%
    Indígena
    11%
    Negra (preta e parda)
    Direção
    A única obra dirigida por uma mulher é “Um Assalto de Fé”, de Cibele Amaral
    Não há representatividade de pessoas não binárias, amarelas e/ou indígenas, nem de mulheres negras na direção e no roteiro
    Roteiro
    Lu Teixeira, em “Até que a Casa Caia”, é a única mulher que ocupa a função sozinha. As demais roteiristas dividem a função com homens
    Produção executiva
    A segunda função com maior representatividade feminina
    Não há representatividade de pessoas não binárias, amarelas e/ou indígenas na produção executiva
    Carina Bini é a única mulher na produção executiva classificada como negra (parda). Ela trabalhou no filme “O Colar De Coralina”
    Direção de Fotografia
    Não há representatividade de pessoas não binárias, amarelas e/ou indígenas, nem de mulheres negras na direção de fotografia
    Direção de arte
    A função com maior representatividade feminina
    Não há representatividade de pessoas não binárias e indígenas, nem de mulheres negras na direção de arte.
    Na análise do elenco principal, dos 20 filmes analisados
    %
    são mulheres
    %
    dos filmes apresentam mais da metade do elenco principal composto por mulheres.
    %
    são homens
    Imagem em preto e branco de homem negro cadeirante, de cabelo com corte arrendodado, olhando para um sofá pegando fogo.
    Na análise geral em relação à raça
    %
    são brancos
    %
    são negros
    %
    pardos
    %
    pretos
    Não houve representatividade de pessoas não binárias, amarelas e/ou indígenas no elenco principal.
    %
    dos filmes apresentam mais da metade do elenco principal composto por mulheres
    A imagem é dividida ao meio. Acima, uma mulher segura um colar de um pedaço de cerâmica. Abaixo, sobre o fundo histórico de Goiás Velho, uma garota com vestido azul e camisa branca.
    O Colar de Coralina tem 100% do elenco principal composto por mulheres.
    Contornos do Congresso Nacional sobre um céu azul. Duas mulheres encostadas em uma grande rosa vermelha. Abaixo, o texto: De quantas vidas você precisa para ser feliz.
    Em primeiro plano, uma mulher de vestido vermelho exibe o dedo anelar. Ao fundo, as demais personagens do filme. Abaixo o texto: Ela não seria perfeita se não fosse tão louca.
    As Vidas de Maria traz uma narrativa voltada para uma protagonista mulher de forma quase exclusiva. Uma Loucura de Mulher também traz no foco da trama uma mulher, apesar de não aprofundar.
    Justaposição de imagens das principais personagens do filme. Abaixo, uma mulher nadando. Abaixo do título, o texto: Uma emocionante estória de relações familiares.
    Homem cadeirante observa um sofá em chamas, em um campo aberto, com o céu nublado. Acima do título, o texto: Uma ficção científica, política e apocalíptica.
    Filhas do Vento se destaca por ser um filme que centra a narrativa nas mulheres negras. Branco Sai Preto Fica foi o filme com maior representação negra no elenco (com 100% de profissionais pretos).
    Personagens
    %
    têm destaque para homens brancos como principais protagonistas.
    %
    apresentam o protagonista central como um homem negro (preto ou pardo).
    %
    apresentam uma mulher branca como personagem central.
    %
    possuem vários atores centrais.
    %
    têm o protagonismo equilibrado entre um homem branco e uma mulher branca.
    %
    exibem o protagonismo central de uma mulher negra.
    Representação
    %
    das obras apresentam representação de mulheres atrelada a questões sexuais, à sexualização e à violência/assédio sexual - atuando como prostitutas ou sofrendo violências sexuais.
    %
    têm personagens queer (LGBTQIA+), sendo que a grande maioria dos filmes (75%) não têm representação LGBTQIA+. Além disso, as representações mesmo quando acontecem são curtas, estereotipadas ou de apoio ao arco dramático do protagonista.

    ConsideraçÕes Finais

    Como foram utilizadas diferentes metodologias, foi possível identificar diversas características dos 20 filmes analisados, alcançando o objetivo principal, mas também extrapolando-o ao trazer perspectivas de raça e LGBTQIA+, aspectos que não estavam inicialmente previstos.
    Papéis de Gênero e representação

    Homens são mais representados. Estereótipos de gênero estão presentes em diferentes níveis, em relação às atividades profissionais e em relação ao arco dramático.

    Violência como linguagem

    Violência como linguagem apresenta estereótipos vinculados ao gênero e à raça em diferentes níveis.

    Quando se trata de homens cis com padrão heteronormativo, a violência tende a ser validada.

    Mais participação feminina corresponde a menos violência.

    Mulheres trans são mais responsabilizadas quando cometem a violência.

    Mulheres cis são as que mais sofrem com a violência heteronormativa.

    Indígenas são retratados como mais violentos, seus atos violentos costumam ser mais justificados, e a violência em torno deles tem grau mais severo.

    Pretos são mais responsabilizados.

    Pardos são os que cometem violência mais branda.

    Representatividade de ficha técnica e elenco e representação de gênero, raça e LGBTQIA+

    As fichas técnicas e elencos principais são em sua maioria compostas por homens brancos.

    O protagonismo masculino branco é o mais frequente nas obras.

    Chama atenção a representação de mulheres vinculada à sexualização e/ou violência.

    A grande maioria das obras não apresenta representação LGBTQIA+.

    Mesmo tendo encontrado diversos resultados pela análise 360º dos filmes brasilienses, os estudos também depararam-se com limitações como, por exemplo, a utilização de uma visão dicotômica de gênero (Berenice BENTO, 2017); a quantidade limitada de filmes, o que, em alguns eixos da pesquisa, atrapalhou a comparação significativa de dados; e por fim, a utilização do método de heteroidentificação de raça e gênero, que pode não apresentar completamente a realidade, já que depende de dados disponíveis sobre as pessoas analisadas.
    1

    Ampliar o investimento em políticas públicas de pesquisa sobre o audiovisual

    2

    Trazer novas perspectivas interseccionais e de diversidade

    3

    Aplicar o estudo em mais obras do DF e de outros estados do Brasil;

    4

    Incentivar políticas públicas vinculadas à ampliação da diversidade nas telas e por trás delas.

    Créditos
    Cinema Brasiliense: gênero e representação é realizado com recursos do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal (FAC-DF), Secretaria de Estado e de Cultura e Economia Criativa (SECEC), Arte Aberta e Kocria Audiovisual
    Conheça mais em
    Ass. de Comunicação - Lina Távora
    lina.tavora@gmail.com
    Este projeto foi realizado com recursos do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal.Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal. Secretaria de cultura e economia criativa.